segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Pra que(m) serve a universidade?

   O ensino superior brasileiro é hoje o coração do desenvolvimento nacional. Por ela passa a formação profissional essencial à economia, à cultura e à tecnologia nacional, além da formação cidadã. Dela que vem os médicos, professores, pedagogos, oceanógrafos, engenheiros, advogados, políticos e etc. Porém, a estrutura montada na nossa sociedade brasileira, de universidades tradicionais, serve para dar luz à “elite” pensante do Brasil, justificado pelo acesso restrito da população às universidades mais qualificadas, que no nosso caso, em sua maioria são públicas. Se hoje o Brasil é a 6ª economia mundial, a maioria esmagadora do acesso a esse crescimento econômico virá da comunidade acadêmica das universidades brasileiras, sem sombra de dúvidas. 

   Daí a pergunta que cabe nesse pequeno texto de opinião, que dialoga com o título, é: Quem deve estar na universidade? Tão difícil quanto convencer um homem de que ele é tão responsável pelas atividades caseiras quanto a mulher, quanto convencer um pai que ter um filho homossexual não é motivo para desestruturar a família, é convencer a sociedade de que a meritocracia já não é mais o imbatível jeito de ingresso na universidade. Em todos os casos, são paradigmas criados pela cultura brasileira. É natural que seja complicado defender as cotas, que o “senso comum” diga o que flui mais na nossa cultura. Inventamos o vestibular para sair de uma estrutura arcaica de ingresso na universidade pela aristocracia, quando praticamente o bispo indicava quem deveria ter acesso aos grandes ensinamentos colocados nas amplas salas de leitura nas primeiras escolas de nível superior, a maioria abrigada em mosteiros. No século XXI, chegou a hora de mexer na estrutura do vestibular!

   Minha primeira defesa é pela universalidade do ensino superior brasileiro. Apenas 13,5% dos jovens de 18 a 24 nesta terra têm direito ao acesso a tal, na maioria das vezes sem qualidade. Se contabilizarmos o acesso a ensino público, os dados são alarmantes para o Brasil que lutamos para construir. Por isso, nunca serei contra a expansão de qualquer universidade, sempre lutarei para que essa se dê do melhor jeito possível. A segunda, é que, claro, todos tenham acesso a ensino básico de qualidade. Isso garante uma formação continuada na universidade, ofertando à nossa sociedade condições para gerar ciência, formular criticamente e ter profissionalização garantida. 

   Do outro lado, não há como negar as enraizadas contradições que existem na educação brasileira, e que não serão curadas em curto ou médio prazo. Hoje, 10% dos estudantes de ensino médio concluem no ensino particular, enquanto 90% estudaram numa pública. Na universidade, 85% dos universitários são provenientes de escolas particulares, e mais da metade frequentou um cursinho preparatório para o exame de ingresso. Isso provoca um ciclo econômico vicioso no Brasil, aflorando nossas desigualdades sociais e elitizando cada vez mais a informação, a ciência e a tecnologia brasileira. Em resumo, estamos colocando a nossa produção nacional, nosso desenvolvimento e nossos impostos (que pagam as universidades públicas e os empregos públicos de melhor escalão nacional) na mão de poucos, e na mão dos mesmos, ao seguir no rumo da história. 

   De tudo isso, tira-se uma conclusão: É urgente a necessidade de construção da Universidade Popular! Não podemos mais concentrar todo o nosso desenvolvimento na elite brasileira, e isso não pode esperar acontecer em longo prazo. É necessária a democratização do acesso à universidade, para que o povo possa ocupa-la, e o Brasil possa ser construído por todos e todas, negros e brancos, índios, pardos, amarelos, europeus, imigrantes, rico, pobre... E nessa minha despretensiosa tentativa de um texto fácil e leve, eu digo: Desapegue da meritocracia excessiva que se instalou no ingresso da nossa universidade. Ela é passado. O Brasil tem que mudar e chegar noutro patamar, e isso só será possível com inclusão social e desenvolvimento para todos. 

  
   Se, para construir uma universidade onde o povo esteja dentro, que contemple o principal objetivo de fortalecimento do desenvolvimento social, soberano e justo do país, seja necessário modificar o critério da meritocracia brasileira, que assim seja! Cotas sim, por uma universidade popular!

3 comentários:

  1. Puxa Thauan, é certo que o brasil pode, e deve, expandir as Universidades públicas sem perda de qualidade. É apenas uma questão de priorizar a educação. Esse binômio quantidade X qualidade aqui pode ser superado por mais investimento. O pior é que nosso governo está fazendo de tudo para barrar os 10% na educação. Sem investimentos não da mesmo, expandir sem perder qualidade. Não vamos entrar nessa de aceitar expansão com perdas de qualidade. A palavra de ordem é expansão sim com ganhos na qualidade.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Salve, Sérgio! Claro que sim, concordo plenamente. Por isso que coloquei lá "da melhor forma possível", pq tem q contemplar mais qualidade na expansão sim!

      Excluir
  2. Cotas sim,mas acho que junto a elas deve-se haver um engajamento social e politico paralelo a melhoria das escolas publicas,não dá pra continuar vivendo o sistema paliativo das cotas eternamente.

    ResponderExcluir